Prefeitura de Fortaleza quer se tornar líder entre capitais do país no processo de transição energética para fontes renováveis na mobilidade urbana

Prefeitura de Fortaleza quer se tornar líder entre capitais do país no processo de transição energética para fontes renováveis na mobilidade urbana

14 de setembro de 2021

O futuro já está acontecendo. Esta foi a máxima levantada no I Encontro da Transição Energética de Fortaleza – que teve como tema "Mobilidade Urbana: desafios e caminhos para a descarbonização do setor de transporte", promovido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor). O evento ocorreu nesta terça-feira (14/12), na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), com a participação do vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista.

 

O vice-prefeito enfatizou que a piora dos efeitos do aquecimento global tem levado todos os países e cidades do Mundo a se mobilizarem para a efetivação de uma transição energética, abandonando o uso predominante de combustíveis fósseis e buscando, como meta, a substituição total por fontes renováveis. De acordo com ele, em Fortaleza, caberá ao setor público, em consórcio com o setor empresarial, liderar esse processo.

 

“A tecnologia está impulsionando o nascimento de novas formas de energia que não necessite da utilização do combustível fóssil para que a gente possa fazer essa transição. A transição energética se dá em todas as áreas, no setor de serviços, no comércio, na indústria, e é fundamental que a cidade de Fortaleza lidere entre as capitais esse processo. Há uma série de acordos que a cidade vem assinando desde 2013, e, recentemente, o prefeito Sarto aderiu a um novo acordo nesse sentido”, destacou o vice.

 

O acordo em questão se trata do Race to Zero (Correndo ao Zero), agenda global promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) que tem a meta de zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050. A ideia é mudar a infraestrutura da cidade para reduzir o uso de combustíveis fósseis e substituir pelo uso de combustível renovável.

 

A Prefeitura de Fortaleza aderiu à campanha em agosto deste ano, em Brasília (DF), durante o evento “Fechando o Ciclo de Ambição com a Corrida ao Zero no Brasil”. O compromisso prevê a criação de ruas verdes, redução da poluição do ar, e desenvolvimento de edifícios com zero carbono, por exemplo.

 

Potencial energético

 

Com relação às mudanças na mobilidade urbana de Fortaleza, como o uso de carros e transportes públicos elétricos, o vice-prefeito explicou que o encontro promovido pelo Iplanfor teve justamente o intuito de debater possíveis prazos para a implantação desses novos meios de locomoção na cidade.

 

“Também é para que a gente estabeleça prazos para que as pessoas possam passar a utilizar carros híbridos, elétricos, movidos a hidrogênio, que será, provavelmente, a próxima geração de automóveis, isso deve ocorrer apenas por volta do final dessa década. A cidade precisa não só se organizar, mas tomar decisões, por isso é importante debater com o setor privado, e pretendemos, depois, debater com toda a sociedade civil”, salientou.

 

Ele também destacou o potencial do Município para geração de energia solar como uma vantagem na corrida pela liderança da transição energética, e para a atração de novas empresas.

 

“Fortaleza tem um potencial enorme para geração de energia solar nos tetos das residências, então por que não fazermos isso? Vai significar custo menor para os consumidores, ao mesmo tempo, vamos utilizar uma fonte renovável e vai sobrar mais energia para atrair mais empresas. O desenvolvimento econômico significa que você sempre vai consumir mais água e mais energia, portanto, cada vez mais a gente vai ter que consumir energia de fonte renovável”, projetou.

 

Também participaram do encontro o secretário municipal do Desenvolvimento Econômico de Fortaleza, Rodrigo Nogueira; a secretária municipal do Urbanismo e Meio Ambiente, Luciana Lobo; o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, e a presidente da Enel Distribuição Ceará, Márcia Sandra Roque Vieira Silva.

 

Mobilidade sustentável

 

A chefe da companhia de energia acredita que a parceria entre os setores público e privado vai alavancar o processo de transição energética em Fortaleza. E afirmou que o uso de veículos à bateria está em teste pela companhia.

 

“Deixou de ser um tema futurista e passou a ser um tema do dia a dia. Essa transição é muito importante e isso começa na mobilidade elétrica, na retirada dos ônibus a gás na nossa cidade. Além disso, o Brasil é uma das maiores indústrias de carros, podemos associar isso a uma matriz energética sustentável. Em termos de custos, ainda temos o tema das baterias como algo que está chegando com mais força, estamos testando bateria em algumas plantas”, disse Márcia Sandra.

 

Ainda segundo a presidente, a Enel pretende sair de todos os negócios relacionados ao fornecimento de gás até 2040, além de abandonar a atividade de geração a carvão em 2027.

 

Uma das palestrantes do encontro, a mentora da SAE Brasil, Delfina Ponte, head de produtos da Enel com carreira focada em energia, informou quais são os países e o número de ônibus elétricos já em circulação em parceria com a empresa:

 

Chile - 493 ônibus
Colômbia - 878 ônibus
Espanha - 145 ônibus
Argentina - 20 ônibus
EUA - 283 ônibus

 

De acordo com ela, a média de economia no consumo é de 70% em relação ao diesel.

 

O encontro também contou com apresentação das especialistas Bianca Macedo, do Projeto Zebra C40, e Mônica Saraiva Panik, da ABH2.

 

Mônica Saraiva é diretora de relações institucionais da Associação Brasileira de Hidrogênio Verde, com ampla experiência na indústria automotiva do Brasil. Ela ressaltou que não há uma concorrência entre o uso de hidrogênio verde e a bateria para os novos mode. “Um veículo a hidrogênio verde usa bateria. Não existe uma solução única, precisamos de uma combinação de diferentes tecnologias”, apontou. Atualmente, a Califórnia é o lugar do mundo com maior número de veículos movidos a hidrogênio e maior número de estações de abastecimento, informou Saraiva.

 

Conforme a especialista, até 2030, poderemos chegar a 15 milhões de veículos movidos a hidrogênio verde em todo o Mundo. Entre as vantagens, as pesquisas revelaram que quanto maior o porte do veículo, maior são as vantagens em termos de tempo de abastecimento, que é de três a cinco minutos, e em termos de custo. Por isso, atualmente, o setor que mais faz investimento na nova forma de combustível é o de caminhões, afirmou a especialista.

 

América Latina

 

Bianca Macedo trouxe os dados relativos à implantação de ônibus elétricos na América Latina, que, portanto, já está em execução da transição energética. São mais de 2.400 ônibus elétricos circulando. Santiago e Bogotá são as cidades que lideram o ranking, com 776 e 484 ônibus em circulação, respectivamente.

 

Segundo Macedo, o novo modelo de negócio em relação aos ônibus elétricos na América Latina se dá com separação de propriedade e operação, com surgimento de novos investidores. Existe um proprietário dos ativos (ônibus, infraestrutura de recarga, bateria), responsável pela propriedade e manutenção dos veículos, que aluga sua propriedade. E um operador, que pode fazer contratos mensais de locação.

 

“Isso tem viabilizado essa transição na América Latina. Hoje, no Brasil, muitos contratos de concessão já permitem que haja essa subcontratação, em que o operador, que já tem concessão com a prefeitura, vai subcontratar ou o veículo elétrico ou a infraestrutura de recarga ou a bateria com esses novos investidores que aparecem”, explicou, ressaltando, também, que o modelo de negociação ainda pode ser melhorado se o contrato ou o pagamento for feito diretamente via prefeitura, porque dá mais garantias para o investidor.